domingo, 4 de setembro de 2011
Somos Silêncios Habitados Por Dentro
O Sal das Sílabas
I
Vem ver o mar, conhecer o sabor do sal,
embalar nas ondas a felicidade branca das crianças,
cantar o amor que cresce da luz.
Vem ver o mar, conhecer o sabor do sal,
embalar nas ondas a felicidade branca das crianças,
cantar o amor que cresce da luz.
Vem ver o mar, a saudade é a memória dos ventos
a lembrança de um sorriso, de um olhar.
Vem ver o mar, há um tempo de partir,
há um tempo de chegar.
II
Homem do mar de Setúbal,
ficas parado no olhar do rio...
nesse silêncio azul habitado por dentro,
nessa saudade salgada de memórias vivas.
Observas o sal (líquido) das sílabas,
o decifrar dos ventos no voo das gaivotas,
escutas o grito branco das ânforas,
a alma azul do pensamento
adormecida no coração das águas.
Homem do mar de Setúbal,
herói tantas vezes ignorado
que trazes um verso de sal entre as tuas mãos,
um rosto marcado pelo rumor das ondas,
uma palavra liberta no aceso navegar do mundo.
O teu silêncio é o olhar que vê
a raiz (inatingível) das marés vazias,
o coração oceânico do leito do rio
abandonado ao aroma das algas.
Homem do mar de Setúbal,
o teu destino irrompe desse azul interior
com palavras de vida,
amas e sonhas ao ritmo incandescente
da (imprevisível) luz.
O rio tem ainda o respirar das sombras da noite.
Cada olhar é uma asa debruçada sobre a alma,
um céu lavrado em sulcos de infinito
e tu, silêncio habitado pela aura das mãos,
já navegas o tempo entre o sono das águas,
um bote salgado cantando o seu nome
com letras desenhadas ao sabor do rio:
“Amor à Vida” – grita o Zé pescador
com os braços estendidos em forma de remos.
IV
Pescadores, são enfim um lugar perto do mar
mãos e rosto a sonhar azul,
são salgadas as mãos que seguram a esperança das redes,
são enfim asas na distância do olhar
ondas, aves, astros, navios na madrugada
velas erguidas nos mastros,
Nossa Senhora, estrela do mar,
são enfim o segredo da tarde,
saudades, poentes e luar,
monumento que se ergue
num lugar perto do mar.
Pescadores, são enfim um lugar perto do mar
mãos e rosto a sonhar azul,
são salgadas as mãos que seguram a esperança das redes,
são enfim asas na distância do olhar
ondas, aves, astros, navios na madrugada
velas erguidas nos mastros,
Nossa Senhora, estrela do mar,
são enfim o segredo da tarde,
saudades, poentes e luar,
monumento que se ergue
num lugar perto do mar.
Com este poema, obtive o primeiro prémio dos "Jogos Florais" promovidos em 2006 pelo "Stella Maris - Apostolado do Mar", de Setúbal. No ano anterior, em Maio, a mesma organização tinha procedido à inauguração de um monumento dedicado ao "Homem do Mar", da autoria do escultor António Pacheco, localizado junto ao rio Sado.
domingo, 31 de julho de 2011
Somos Silêncios Habitados Por Dentro
“Não somos para saber, sabemos para ser”
(Jesus Herrero)
Sobre a poesia…
A poesia será casa quando dermos
as mãos e formos cuidar dos versos
a poesia será asa quando a amizade
reacender o sonho de cada novo dia
a poesia será água quando a sede
de viver inundar o tempo
a poesia será tempo quando o olhar
se detiver na linha do horizonte
e uma vela nascer na lonjura desse azul
a poesia será vida quando o amor
nos vier bater à porta e inesperadamente
rodarmos (no real sentido) a chave do coração.
terça-feira, 26 de julho de 2011
Somos Silêncios Habitados Por Dentro
Somos Silêncios Habitados Por Dentro
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia; e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre, à margem de nós mesmos.“
(Fernando Pessoa)
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia; e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre, à margem de nós mesmos.“
(Fernando Pessoa)
Perguntam-me muitas vezes o que é a poesia
respondo-lhes que a poesia é uma casa
habitada de palavras onde cada palavra
é uma janela aberta
respondo-lhes que a poesia é uma ponte
que encurta as distâncias que separam os homens
respondo-lhes que escrever um poema
é como atravessar um deserto que a escrita
é um caminho onde aprendemos a conhecer-nos
onde nos questionamos e recrudescemos
o que não lhes digo é que muitas vezes
a poesia é tão só a coragem de escrever o silêncio.
Fernando Paulino
sábado, 9 de julho de 2011
Poema do Dia
A madrugada
perfuma
o dia claro
Sobre as mãos
repousa
o doirado
da luz
A tua boca
feita água
clara
embala em murmurio
as sombras
quentes
do meu rosto .
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Poema do Dia
Entre beijos
e silêncios
celebram a vida
nos os braços
de cada hora
Os olhos
acendem a noite
as mãos
rasgam incertezas
Misturam os dedos
pássaros de fogo
naufragos no corpo
As madrugadas
são bosques
onde as heras
crescem
sobre a pele
nua
No espelho
as mãos
as harpas
o vento
as pombas
as muralhas
ancorados
boca a boca .
sábado, 2 de julho de 2011
Poema do Dia
Procuro
a teus pés
a liberdade
Espaço
azul
de luz
Fogo
de espanto
florindo
Sombra
do adeus
ardente
de reencontro .
terça-feira, 28 de junho de 2011
Poema do Dia
Aroma
de pétalas
a eterna
suavidade
do olhar
Tão próxima
do sentir
tão próxima
de um cantar
frágil de ave
Para sempre
vibrando
no coração
cálido
das palavras .
quinta-feira, 23 de junho de 2011
Poema do Dia
Em cada gesto
desfolhas
brancas camélias
O silêncio
no perfume
cansado
do amor
É o fogo
que alimenta
o sonho
e estabelece
o ritmo
de cada beijo .
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Poema do Dia
Nos longes
dos olhos
onde se adoçam
distâncias
semeiam-se
velas
no destino
das marés
Acariciada
pelo morno
da tarde
desenha-se branca
a semente
do beijo
sobre os lábios
silêntes
O voo
da boca
é um pássaro
de sol
uma ânfora madura
de frutos
e musgos .
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Poema do Dia
Com os teus
braços de água
invades o silêncio
do meu corpo
Flor de calma
espuma branca
rodeada de esperança
Duas gaivotas
voam
sobre os penhascos
o vento
embala a vida .
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Poema do Dia
Entre verbos
e versos
de liberdade
a aurora
emerge
da noite
Desfolho
o teu corpo
no hálito
da manhã
sob gestos
marinheiros
com sortes
de terra .
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Poema do Dia
Chovia
no jardim
de violetas
A porta da casa
fechava a distância
entre a imensidão
de pombas
e a dualidade
da poesia
Sobre a inocência
das palavras
o cálice doce
cheio de amor .
domingo, 5 de junho de 2011
Poema do Dia
Estranhamente
mágica
esta sensação
de que só tu
habitas o tempo
Rasgando
com asas
esse presente
diáfano
de sentimentos .
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Poema do Dia
Delicadamente
um sopro
de lua
Amanhece
a saudade
da boca
O desejo
da pele
suavemente
branca
Deslizam
sobre o veludo
da sombra
as raizes
do sonho
ligando a vida .
sábado, 28 de maio de 2011
Poema do Dia
Viver
sem o gume
do tempo
sobre os ombros
O sol
fecundo
sedento
e ardente
O limite
suspenso
na luz
Sereno
o voo
da gaivota
escondida
nos braços
As mãos
com feitio
de asas
No vento
cavalos
espantados
entre o sono
das giestas
Vida azul
de sal
e destino .
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Poema do Dia
Branca
a cor
do desejo
uma corrente
limpida
gota a gota
vertida
na rede
da seda
O corpo
azul
adoçado
de fogo
Desperta
nos lábios
o calor
que esconde
a tarde .
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Poema do Dia
Que saudade
quieta
segreda
esse quente
rio de sal
na pele graciosa
Onde o doirado
das formas
se enrola suavemente
nos dedos .
domingo, 22 de maio de 2011
Poema do Dia
Há uma flor
nos lábios
dos dias
uma sedução
nos braços
da saudade
As palavras
emudecem
na intacta
nudez
dos olhares
A luz
desenha
a compasso
as formas
do teu rosto
As mãos
desfolham-se
em claridades
indiferentes a tudo
o que sabem ser
inacessível .
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Poema do Dia
Existir
ao ritmo da alma
à luz da fogueira
Estremecer
na sombra da imagem
entre pétalas de flor
Construir
dunas de desejo
grão a grão retiradas
da poeira da vida
Existir
à luz da alma
ao ritmo da fogueira
Tocar
a orla rosa
de uns doces
lábios
Silênciar
no peito
o grito virgem
da solidão .
Existir
à luz da fogueira
ao ritmo da alma .
terça-feira, 17 de maio de 2011
Poema do Dia
A luz era o cerne
a rosa o horizonte
Nada mais para dizer
do que esta palavra terra
Um gesto em chama
abrindo a sombra
no teu corpo de silêncio
O espaço de um beijo
suspenso nos lábios
respiro a luz
bebo no instante a rosa .
quinta-feira, 12 de maio de 2011
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