terça-feira, 4 de novembro de 2014
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
Não Posso Amar O Destino
O salgado escrevia entre a solidão de janeiro, entre os
barcos que chegavam da ausência, atravessava assim o silêncio salgado das
sílabas que já durava há vários meses, procurava nas palavras as pegadas das
aves, recordava um nome de laranjeira
junto ao mar, eram os seus olhos os ventos navegáveis das palavras eram os seus
lábios as muralhas das manhãs. O primeiro poema cresceu, ganhou forma, foi relido
e rescrito, ficou a levedar no computador e na manhã seguinte Salgado deu por concluído
o primeiro poema de um sonho:
Abre a janela devagar como se abre a manhã
faz do canto dos pássaros o respirar verde da serra
e do voo alegre das andorinhas o brilho azul do rio
abre a janela devagar como se abre a manhã
faz da palavra um lugar de encontro
e da poesia o tua casa interior
abre a janela devagar como se abre a manhã
e respira profundamente como quem ama .
sábado, 1 de novembro de 2014
NÃO POSSO AMAR O DESTINO
O céu estava em tons rosa e um enorme bando de gaivotas
apareceu vindo do nada enchendo o céu de asas em todas as direcções. Os tons
rosa começaram a desvanecer-se e uma pequena estrela apareceu, no ainda ténue
azul, rodeada pelo rosado dos cirros. Um barco fazia a travessia sobre o azul
nocturno do rio. Das paredes das casas saia um calor nu e abafado. A tarde
tinha parado nesse crepúsculo e o nome do livro continuava assim enxuto, seco,
predestinado. “não posso amar o destino”.
Salgado sabia que nada acontece por acaso, o sonho, a frase
no computador tudo tinha um sentido e um caminho. Para iniciar esse caminho era
necessário equilíbrio, o caminho faz-se caminhando, era a sua vontade e o seu
receio, sabia que essas palavras não têm amanhã, saltam os muros da alma, pernoitam na
sombra dos alpendres, plantam sementes de poemas entre as estrelas do dizer, transportam
um novo ciclo de escrita onde tudo se renova.
Salgado
sentou-se em frente ao computador, a noite é um lugar sem som, o coração é uma
raiz arborescente que aceita o tempo e atravessa o rio com o olhar descalço. Nesta noite começava a vida do Salgado.
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